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23.10.10

* contratempos e um final feliz *

Porto - Praça da Batalha
Porto - Rua de Santa CatarinaSinger 29 K1
Singer 29 K1
caixa antiga de botões

Há dias assim que não correm conforme planeamos.

Foi uma manhã atribulada naquele dia, com o carro a parar na estrada por falta de combustível, situação que nunca me tinha acontecido e que nos valeu uma caminhada até à bomba de gasolina mais próxima e o respectivo caminho de volta. Cancelados os compromissos da manhã devido a este contratempo, pudemos dar uma volta na baixa do Porto a dois. Neste andar sem rumo acabámos por passar na Rua Cimo de Vila, a rua mais antiga da cidade e onde se encontram as melhores matérias-primas e as mais baratas. Quem quiser ferragens, couros, cordões, etiquetas, carimbos, material de retrosaria, é lá que as encontra de boa qualidade e a um bom preço nas lojas bem antigas e pitorescas. Foi por lá, que ao passarmos no número 91, na oficina do Sr. Delfim Almeida ( que nos restaurou o corpo desta máquina ) nos deparámos com esta preciosidade que se encontrava à venda.

É uma máquina antiga de sapateiro, uma Singer 29 K1 datada do início do século 20. Num estado de conservação razoável, vai ser restaurada pelo António nos tempos mais próximos, o que inclui além de desmontar e pintar, a construção do apoio de madeira que este modelo possuia, mantendo-se fiel ao desenho original. O que não é difícil pois conteúdo sobre esta unidade não falta na net, com manuais de instruções detalhados sobre os acessórios.

Também da mesma oficina trouxémos uma linda caixa antiga de uma fábrica de linhas já encerrada, repleta de botões. O que foi uma espécie de cereja em cima do bolo para um dia que começou tão mal.

17.10.10

* do fim de semana *

botas
casa do outeirinhomigalha
home
home♥
marmelada de maçã

Fotografias aleatórias deste fim de semana.

11.10.10

* fios *

Fios, Formas e Memórias dos Bordados , Rendas e Tecidos,
fios
fios
fios
fios
fios
Casa do Outeirinho- Santa Cristina de Figueiró
Casa do Outeirinho- Santa Cristina de Figueiró
Casa do Outeirinho- Santa Cristina de Figueiró

Encontrei esta publicação na Biblioteca da Escola Artística Soares dos Reis. Trata-se de um catálogo com uma compilação de textos de diversos autores, sobre o panorama têxtil e as respectivas produções artesanais do nosso país, editado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Pretende perpetuar no tempo o trabalho de gerações de mulheres ( este mundo escreve-se maioritariamente no feminino ), documentando o que produziram e continuam a produzir: autênticas obras de arte manufacturadas.

O critério de selecção segundo os autores, num país de contrastes como é o nosso, onde a multiplicidade de paisagens e de materiais é uma realidade, passou pela escolha das produções certificadas e daquelas passíveis desta certificação, com uma identidade própria e que se identificam de imediato com um determinado território.

Exemplos como estes que passo a citar " Tais como são os casos óbvios dos Lenços dos Namorados do Minho, ou dos Bordados da Madeira, de Viana do Castelo, da Terra de Sousa, de Tibaldinho, de Castelo Branco, de Nisa ou de Arraiolos, dos cobertores da Serra da Estrela, ou da tecelagem de Almalaguês, de Reguengos, de Mértola ou dos Açores, mas também o Pardo e Surrobeco de Trás-os-Montes, as rendas de bilros de Peniche ou de Vila do Conde, o filé de Felgueiras, as rendas do Pico e do Faial. "

O livro também aborda a questão das produções que fogem a uma matriz identificadora com uma determinada localização geográfica. Não sendo suficiente a sua singularidade para lhes atribuir um local de origem, encontram-se estas um pouco por todo o país, como é o caso da tecelagem ( exceptuando alguns casos como Almalaguês e Mértola ), da cultura do linho, distribuída por Guimarães, Ponte de Lima, Terras do Bouro, Serra de Arga, Vila Verde, Lousada e Barcelos, da trapologia que em Portugal nunca conheceu o estatuto e o rigor estilístico que tem nos outros países, das malhas artesanais em Lousada, Paços de Ferreira, Terras de Sousa e Póvoa de Varzim que não possuem expressão de forma a merecerem mais atenção das entidades reguladoras deste tipo de ofícios.

Por fim e em jeito de remate foca o surgimento de novas produções fortemente personalizadas que com um novo enquadramento composto por gente inquieta, criativa, urbana e com elevada formação escolar, faz dos materiais e técnicas têxteis a sua nova linguagem. Nomes como Gisella Santi, Guida Fonseca ou Helena Loermans fazem a ponte entre as técnicas tradicionais e uma estética mais contemporânea. Claro que os novos criadores, nestas águas movediças do artesanato urbano também não foram esquecidos e as produções têxteis actuais estão a tornar-se um modo de vida e são transversais explorando campos como os adereços, os feltros, a tecelagem o bidimensional e o tridimensional. Também nas Artes Plásticas o fio devido à sua pluralidade plástica é muitas vezes uma opção material e estética, ligada à Instalação e também à Pintura e Escultura, que encontra a sua expressão máxima em artistas como Joana Vasconcelos, Helena Almeida, Miguel Ângelo Rocha, Patrícia Garrido entre muitos outros.


Na minha estadia de 4 anos por motivos profissionais na cidade da Lixa, situada no Vale do Sousa, pude comprovar que o universo têxtil descrito nesta compilação existe efectivamente. São ainda muitas as bordadeiras que por conta própria ou de outrém, mantêm esta actividade viva. E existem algumas escolas que dão formação profissional a muitas mulheres, numa das quais o António leccionou a disciplina de desenho. Com raízes familiares na região o meu marido, descobriu que o bordado da Lixa teve origem na terra onde nasceu, Santiago de Figueiró no concelho de Amarante, e que foi reconhecida como um centro importante da indústria de bordados no passado, datando os primeiros registos de 1913.

O trabalho de bordadeira era acumulado com a jorna diária do campo e a multiplicidade de tarefas da vida doméstica, sendo frequente encontrar pequenos grupos de mulheres na eira a trabalhar ao sol, ou na soleira das portas. Ainda hoje isto acontece. O bordado da Lixa originariamente feito sobre linho, passou a ser executado em algodão com o uso generalizado deste material, ganhando este expressão como matéria-prima de suporte. A paleta dos fios usados vai desde o branco, cru, beje, pérola a cor de estopa. Caracteriza-se este bordado pelo uso de mais de 200 pontos na sua execução, aos quais falta um léxico específico, explicado pelo facto de as bordadeiras na sua maioria serem analfabetas, o saber transmitia-se em contexto familiar onde se aprendia observando.

A constatar a pluralidade de paisagens e ofícios em Portugal relatada neste livro, estão as Rendas de Bilros de Vila do Conde, concelho onde vivemos presentemente. A história da Renda de Bilros remonta ao ano de 1616 e o seu surgimento aparece sempre associado às redes de pesca e à necessidade de as mulheres obterem uma fonte de rendimento alternativa no orçamento familiar quando a actividade piscatória não chegava para a subsistência da família. A precaridade financeira destas mulheres que enviuvavam cedo, pois a profissão dos maridos era de risco, em muito contribuiu para arranjarem o seu próprio sustento.

Existe presentemente uma Escola de Rendas de Bilros com bastante alunos inscritos o que revela ainda hoje a importância e valorização cultural desta arte bem como o Museu das Rendas de Bilros de Vila do Conde onde é possível observar algumas rendilheiras a trabalhar ao vivo.

Também aqui perto no concelho vizinho da Póvoa de Varzim são manufacturadas as famosas camisolas e meias poveiras, cujos motivos gráficos e temas são os mesmos que os usados noutros tempos, pelos pescadores da região.

Encontram-se também numa das freguesias desta cidade os conhecidos Tapetes de Beiriz feitos à mão em pura lã por artesãs, em teares antigos de madeira maciça. Que lhes conferem robustez com o seu batimento único. Se ainda existem deve-se à persistência da actual proprietária na revitalização da antiga fábrica ( 1988 ) e de produzir peças de qualidade, em vez de ceder à tentação da produção em massa.

É pois um livro que vou tentar adquirir, vale bem uma leitura atenta.


| os detalhes das imagens apresentadas em baixo são referentes à Casa do Outeirinho, antiga casa de família do António situada em Santa Cristina de Figueiró, Amarante que revisitámos este Verão. Curioso o facto das filhas da antiga caseira desta casa, serem bordadeiras, numa inevitabilidade social que as mulheres da terra continuam a perpetuar |