Levanto-me às cinco da manhã desperta e sem sono. Desço as íngremes escadas que rangem sob os meus passos, da velha casa centenária onde nasceu a minha mãe. Na cozinha o cheiro a lenha da lareira acesa na noite anterior. Lá fora escuro como breu. O cheiro do café e torradas com manteiga acabadas de fazer, vão-me despertando os sentidos. A alvorada já se anuncia dissipando aos poucos as sombras da noite.
Saímos. O ar fresco na cara, os bons dias ao senhor Jacinto que passa na sua velha motorizada na rua principal da aldeia. As andorinhas rasam as nossas cabeças num bailado frenético, despertando do torpor da noite fresca de Verão. O galo canta ao longe e os locais acordam cedo para as lides da lavoura e assim aproveitarem o fresco da manhã. Gente cor de terra, resistente e dura.
Lá em baixo na lagoa a neblina é tão densa que cria uma atmosfera quase irreal tornando-a ainda mais bonita. Pescadores de cana e de barco tentam a sua sorte com algum peixe distraído. Demoramo-nos na contemplação. Apenas o clique da máquina fotográfica e o coaxar das rãs, cortam o silêncio quase religioso do momento. O sol nasceu. Patos reais em bandos alimentam-se na margens e fogem prudentes quando nos aproximamos. No ar húmido da manhã o cheiro a eucalipto.
Seguimos os trilhos marcados, pela mata dentro sob terra vermelha e pedras roladas. De repente o cenário muda e eis-nos no rio. As minhas mãos crispam-se geladas no volante da bicicleta com o frio que se faz sentir. Um lampejo azul turquesa atravessa o ar. É um guarda-rios. Que nunca chegamos a ver de perto, apenas a sua cor flamejante. Peixes saltam no rio deixando ondas concêntricas na água, envolta no nevoeiro matinal. Mais uma vez pescadores solitários nas margens, ruminam pensamentos num alheamento quase devoto.
O tempo passa devagar aqui, onde o silêncio é apenas cortado pelo motor de um veículo e o ladrar de um cão zeloso.
Silêncio de ouro. Quem diria que um dia iria gostar tanto de o ouvir.
que bonito texto.
ResponderEliminarTambém me sinto bem em lugares assim...
ResponderEliminarAgora no meio deste reboliço que, alterou o meu anterior ritmo de vida, apetecia-me uns dias num lugar como esse! :-)
Obrigada Sushi, são apenas apontamentos daquilo que me vai na alma num lugar daqueles. É bonito e único.
ResponderEliminarAlexandra, acredito! Imagino que agora não deves parar :)*
Gosto deste ritmo, destas sonoridades. As fotos são muito bonitas e retransmitem estes momentos:)
ResponderEliminarAcho que ias gostar muito daquele lugar Diane, eu já restou cheia de saudades :)*
ResponderEliminarQue delícia de descrição!
ResponderEliminarescreve tão bem maria.... texto delicioso! imaginando tudo a cada palavra! quando se escreve com a alma, quem lê pinta o que a maria sente :)
ResponderEliminarOlá Elisabet! Tenho dias..., um beijinho :)*
ResponderEliminarComo é possivel viver ao lado de tantas coisas bonitas e não conhecer...
ResponderEliminarAcho que vou aproveitar o fim de semana.